A Toyota brasileira foca no Auris


Não assisti ao filme Avatar, nem sei se é bom, mas aposto que estão pensando em fazer uma “parte 2”. É uma regra no cinema. A continuação consegue em média 70% da bilheteria do primeiro e, num mundo de incertezas, replicar receitas é uma ideia tentadora. Mas não íamos falar de carros? Já estamos falando. Em dezembro, embalado pelos últimos dias de IPI reduzido, o Corolla emplacou 7 008 carros. Bateu de longe o rival Civic (4 083 unidades), mas não foi só isso: trata-se do novo recorde histórico do segmento, à frente de Monza, Vectra e Civic em seus melhores dias. O sucesso do Corolla tem feito a Toyota brasileira pensar num volume 2 – ou, melhor dizendo, num dois-volumes. O Auris.


A Toyota brasileira considera que o Auris é um bom passaporte para um segmento em ascensão, o dos hatches médios. A experiência recente com as ondas de nosso mercado (tivemos a das minivans, a das peruas e a dos sedãs médios) mostra que a entrada de novos competidores não faz a fatia de cada um ficar menor. O segmento da moda cresce à custa do encolhimento dos segmentos vizinhos. Com um hatch médio, a Toyota poderia resistir à retração do mercado da moda de hoje, o de sedãs. E, mais que defender posição, seria um gesto de ataque ao principal rival. O Honda Civic conquistou um público jovem que o Corolla atual, de estilo conservador, não consegue alcançar. O Auris renova a imagem da marca sem diluir a imagem do Corolla, afinal os dois têm personalidades distintas. E cobre o espaço que existirá acima da linha Etios – hatch e sedã na faixa de 35 000 a 50 000 reais, que chegam aqui no fim de 2011. O Auris ficaria entre 55 000 e 70 000 reais.


A rentabilidade é menor que a do Corolla, pois o custo de produção do Auris é maior. O sedã usa mais chapas de aço (é 30 cm mais comprido), mas o hatch tem componentes extras mais caros, como limpador traseiro e tampa de bagageiro, além de reforços estruturais para compensar a grande abertura na carroceria. Fontes da Toyota dizem que o Auris só será viável se for fabricado no Brasil, e isso depende de ampliar a linha de montagem de Indaiatuba (SP). A matriz no Japão resiste a aumentar a capacidade de produção – o volume previsto para a futura geração do Corolla é igual ao atual. Mas a importância do Brasil aumenta à medida que o mercado americano encolhe e a imagem da Toyota fica chamuscada pelos problemas de segurança ocorridos na Europa e nos Estados Unidos (veja na pág. 26). O sucesso do Corolla por aqui é um bom argumento para convencer a matriz, mas, para a conta fechar, o hatch terá de vender acima de 3000 unidades ao mês – mais que o Hyundai i30, atual líder do mercado. Fomos ao lançamento do novo modelo, na Espanha, para ver se ele tem cartaz para isso.


A cabine do Auris tem uma ou outra peça bem parecida com as do Corolla, como quadro de instrumentos e bancos. O resto passa longe do padrão sóbrio do nosso sedã: o novo volante tem base achatada e pontos de pegada bem definidos. A evolução preservou um dos símbolos do carro: o belo console suspenso, que nasceu inspirado nas formas da catedral de Notre-Dame, em Paris. Na parte de cima dela continua o câmbio, ao alcance direto das mãos, e embaixo há espaço para guardar pequenos objetos – que ficam não tão ao alcance assim...


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