Navegar é preciso

Os aparelhos GPS tiveram o mesmo destino dos celulares e dos sistemas de som automotivos. Não servem apenas para fornecer localização de vias e indicar trajetos. Em um mercado cada vez mais competitivo e conectado, os navegadores se viram obrigados a agregar outros dispositivos. Até por uma questão de sobrevivência em um segmento muito disputado. Com isso, os GPS já passam informações de trânsito, oferecem telas com touchscreen e fazem interface com outros aplicativos do mundo tecnológico. Uma evolução natural que promete ainda mais novidades nos próximos anos, até para atender aos anseios do mercado. "Atualmente 80% dos proprietários de GPS gostariam de ter um aparelho com a tecnologia que analisasse o trânsito em tempo real", garante Helder Azevedo, diretor geral da Navteq para a América Latina, que acaba de lançar o sistema Traffic com tal capacidade.


O serviço funciona até de forma simples. Uma central monitora as condições de tráfego através de parcerias com empresas de rastreamento, câmaras e dados dos órgãos regionais, informações de emissoras de rádio e tevê, entre outros. Essas informações são atualizadas e repassadas para os aparelhos GPS através de ondas de rádios. O curioso é que esse serviço já existe no Brasil há dois anos, mas a maioria dos usuários desconhece essa possibilidade. "O serviço foi aprimorado e ampliado neste período, mas ainda é desconhecido. Há uma demanda reprimida muito grande", observa Vinícius Gaensly, gerente de produto da Mio, cuja linha de navegadores Spirit oferece o serviço sem custo adicional.

Os GPS já possibilitam a chamada conectividade. Entradas para USB, conexão Bluetooth, emparelhamento com celulares, interface com iPod e com o som do carro e receptor de sinal de tevê digital são alguns exemplos da amplitude de possibilidades dos navegadores. Em um futuro nem tão distante, vão servir de "ponte" para um verdadeiro netbook a bordo, os já chamados PC Cars, onde uma única plataforma vai fazer a convergência do navegador e de diversas outras funções. Através dele, aliás, será possível não só efetuar uploads de mapas, como também a compatibilidade do carro com as novas tecnologias. "Será um computador de bordo no seu sentido literal e vai possibilitar que o veículo atualize sua conectividade. Se não, a conectividade do carro vai ficar velha mais rapidamente do que o próprio carro", prevê Ricardo Takahira, gerente de novos negócios da Magneti Marelli.

O custo desta convergência, porém, representa também um empecilho. Tanto que mais de 80% dos equipamentos vendidos no país cumprem a simples função de mapear. "O consumidor brasileiro dá muito valor à parte visual e ao preço, evidentemente", reconhece Helder, da Navteq. Algumas empresas, por esta razão, apostam no chamado "feijão com arroz". Ou seja, em aparelhos que se concentram apenas na função de mapear. A Multilaser, por exemplo, diz que 95% das vendas são dos aparelhos mais básicos. "O GPS teve redução de preços de hardware e de software, o que permitiu maior quantidade de usuários. Todas estas funcionalidades são acessórios que levam o aparelho a preços inacessíveis", alfineta Reinaldo Paleari, gerente de produtos de eletrônicos da Multilaser. Mesmo assim, nem toda conectividade é castigada, já que os aparelhos da empresa podem receber opcionalmente o chip com sinal para tevê digital.

Simples também devem ficar ainda mais os mapas e comando do aparelho. Em benefício de uma melhor interatividade homem-máquina, os GPS deverão receber grafismos mais enxutos e comandos mais objetivos. "A tendência é ter um sistema cada vez mais amigável para todo e qualquer tipo de usuário, sem a necessidade de curso para saber utilizar o sistema", acredita o consultor Paulo Roberto Garbossa, da ADK Automotive. "A busca é por layout clean e comandos intuitivos. Ruas que estão afastadas do curso já não aparecem o nome no mapa, por exemplo", valoriza Vinícius, da Mio.

Instantâneas

# GPS é a sigla para Global Positioning System, algo como "sistema de posicionamento global".

# O sistema nasceu da Guerra Fria. Depois que a União Soviética lançou o primeiro satélite artificial na órbita, em 1957, os Estados Unidos desenvolveram o projeto Navstar, em 1960, que obtinha informações sobre qualquer ponto do planeta. O dispositivo entrou em operação mais ampla a partir de 1995.

# Cerca de 85% dos aparelhos de GPS vendidos no país é de tela de 3,5 polegadas. O restante fica para os modelos de 4,5, 5 e 7 polegadas.

# O recém-lançado Navteq Traffic monitora o trânsito das cidades de São Paulo, Rio de Janeiro, Belo Horizonte, Salvador, Curitiba e Porto Alegre.

# A Mio está desenvolvendo antenas externas para que os clientes de aparelhos M300 e M400, que não dispõem do serviço de tempo real, poderem receber as informações de trânsito.

Sem ventosas

Os disparates entre Brasil e Europa no universo automotivo não ficam restritos a plataformas modernas ou itens de segurança disponíveis nos veículos. Até mesmo a aplicação do GPS é inusitada. No mercado europeu, quase todos os veículos são equipados – de série ou como opcionais - com aparelhos de navegação embutidos. Por aqui, o mais comum são os equipamentos avulsos, geralmente presos com ventosas nos vidros. Poucas marcas se mexeram. Inicialmente as importadas. A Volvo passou a disponibilizar GPS de série no painel para sua linha em 2008, a Porsche aplicou no Cayenne e a BMW faz o mesmo nos Séries 5 e 7.

Vectra GT e Agile foram lançados oferecendo GPS como acessório nas concessionárias - com ventosas no caso do Vectra e embutido num porta-trecos no alto do painel no caso do Agile. A Citroën também resolveu se valer do marketing do GPS. O recém-lançado Aircross pode receber como opcional um sistema com tela de sete polegadas, posicionado acima do painel central. Antes, porém, a Mitsubishi passou a disponibilizar o navegador na Pajero Full integrada ao sistema multimídia do SUV. O sistema foi desenvolvido com a matriz japonesa e com o fornecedor no Brasil. A receptividade foi boa e a marca japonesa tratou de embutir o GPS nos modelos Outlander, Pajero Dakar e, mais recentemente, na L200 Triton. "Captamos a necessidade do mercado para ter um equipamento mais original. Se não fosse problema de custo, já teria sido lançado em muitos modelos", acredita Reinaldo Muratori, diretor de engenharia e planejamento da Mitsubishi.

O culpado onipresente no mercado brasileiro é mesmo o custo. Segundo especialistas, a adaptação é complicada, pois os sistemas europeus são diferentes dos brasileiros. Já nos projetos nacionais, desenvolver navegadores no painel demanda investimentos. "Os carros que têm GPS acabam sendo os mais caros de forma geral", reconhece Vinícius Gaensly, gerente de produto da Mio. Um panorama que promete se alterar com o tempo. "Já passou do tempo que se achava legal ter uma ventosa presa seu para-brisa. A tendência é de ter cada vez mais produtos embarcados", adianta Ricardo Takahira, gerente de novos negócios da Magneti Marelli.

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