Hyundai i30


Dos carros que a Hyundai vende para o nosso mercado, um é referência entre seus pares (o sedã de luxo Azera) e o outro era até agora há pouco (o jipinho Tucson, que é uma espécie de Chevrolet Captiva). Nada mau para uma empresa que não faz carros de passeio no Brasil, mas, de qualquer jeito, era a Hyundai tomando a sopa pelas beiradas. Agora, ao lançar o i30, ela mete a colher no mercado de hatches médios, onde o caldo é mais quente. Do antigo Ford Focus GL ao novo Focus Ghia, passando por nomes como Golf e Subaru Impreza, são dez rivais na faixa entre 45 000 e 70 000 reais. O i30 chega em versão 2.0 manual, de 54 000 reais, e essa 2.0 automática, por 58 000.


A estratégia que faz o sucesso do Azera se repete no i30: preço na média e conteúdo bem acima. Controle de estabilidade, seis airbags, sensor de estacionamento, retrovisores externos com rebatimento elétrico e interno com antiofuscamento, freios ABS com EBD... Fora o teto solar, tudo de série. São itens dignos de um Volvo C30, a preço de Astra hatch. Rechear de equipamentos costuma ser uma estratégia para injetar ânimo em carros veteranos, como a Fiat fez com o Stilo (que chegou aqui em 2002). Não é o caso.
O i30 foi apresentado em 2007, no Salão de Genebra, com a missão mudar a imagem da Hyundai. Lá, como aqui, a marca chama atenção pela generosidade com equipamentos e prazos de garantia. Desenhado no novo centro de design da marca, na Alemanha, o i30 quer atrair pelo desejo. Com 52 805 unidades registradas na Europa de janeiro a outubro de 2008, está longe do líder Golf (402 759) e perde até para seu irmão gêmeo, o Kia Cee’d (93 818). Não são números muito animadores, mas o fato é que vários dos adversários que o Hyundai enfrenta lá (Peugeot 308, novo Golf, Fiat Bravo, novo Mégane, Toyota Auris e Civic hatch) não chegaram ao defasado mercado brasileiro.


A lataria do i30 é puro BMW Série 1 e a grade em forma de “V”, continuado pelos vincos do capô, lembra o Polo. Lanternas traseiras e janelinhas laterais lembram o novo Fiesta europeu, mas tudo isso acaba soando original num mercado como o nosso, distante da Europa. Na rodovia dos Bandeirantes (que leva à pista de testes e ao rico interior de São Paulo, frequentada por carrões de todo tipo), o i30 chamou muita atenção. As rodas aro 17 (parecidas com as do Civic Si) são as que eu instalaria na oficina, se não viessem de fábrica. Os faróis são diferentes do que se vê e, aliás, iluminam bem à beça.
Dá gosto dirigir o i30 de noite. Os instrumentos impressionam, com ponteiros vermelhos, grafismos brancos e um halo azul-marinho que se repete nos visores de rádio, computador de bordo e arcondicionado digital. Pena faltar forração de couro no volante e na alavanca de câmbio porque, for a isso, nenhum carro médio brasileiro é tão caprichoso em acabamento. Até o carpete que vai no chão é bonito. Painel e portas são cobertos de espuma macia e o plástico do aplique grafite, no volante, é emborrachado. O CD player promete dias de música pura e sem repetição, com disqueteira para seis CDs de MP3 no painel, entrada auxiliar e tweeters. Ponha um subwoofer e a festa ficará completa.


O volante é pequeno e sempre mais pesado do que você costuma encontrar por aí. Não é tão cômodo na garagem do prédio, mas na estradinha vai que é uma delícia. O i30 não é um kart no asfalto liso nem um Cadillac em caminhos de terra, mas, graças à sua suspensão traseira multilink, encara bem qualquer situação. Talvez os donos de Impreza e do novo Focus tenham um carro melhor de curva que esse, mas nem eles terão certeza a ponto de se gabar disso. O motor 2.0 16V, igual ao do Tucson, acompanha o bom ritmo do rivais 307 e Golf, mas, diferentemente deles, não é flex. Com comando de válvulas variável em admissão, ele tem bom torque quando o motor está em giro baixo, disfarçando o fato de que o câmbio tem quatro marchas. Só quatro? É, só, e sem opção de trocas sequenciais. Em vez de reclamar, contudo, relaxe. Bom, bonito e barato, com cinco anos de garantia, o i30 tinha que ter algum defeito. Bom, pelo menos você já sabe qual é.


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