"Milagre" nos preços dos coreanos

Eles vêm do outro lado do mundo e são taxados em até 35% antes mesmo de chegar ao Brasil. Frete e Imposto de Importação são dois custos que, somados, roubam a competitividade de todo importado à venda no país. De todo? Bem, retire dessa lista os coreanos. Veja os valores cobrados por Hyundai e Kia e compare com os valores de seus rivais nacionais, ou mesmo dos argentinos e mexicanos, isentos de imposto. A diferença é mínima, e em muitos casos a favor dos coreanos. Quando a esmola é demais o santo desconfia, inclusive vários rivais que enxergam “compra de mercado” na ação. Qual é o milagre? Com frete e imposto extra, como se explicam preços tão atraentes?


A resposta não vem no singular. “São vários fatores que produzem esse fenômeno”, afirma Ayrton Fontes, consultor de varejo da MSantos. O primeiro está na moeda local, o won, que de acordo com o índice da revista britânica The Economist está 32% desvalorizado em relação ao dólar. A equação prossegue. Segundo Fontes, pesquisas de agências internacionais apontam que as fabricantes coreanas têm margem de lucro reduzida, superior apenas à das chinesas. “Evidentemente que é menor”, diz Ary Jorge Ribeiro, diretor de vendas da Kia do Brasil, sobre a margem de lucro. Ribeiro, porém, não revela o porcentual. “São margens mais justas, eu diria, e necessárias para a entrada em novos mercados”, explica. Sobre a lucratividade das concessionárias, Ribeiro afirma que elas “trabalham com índices iguais aos da concorrência”.
“Ninguém perde dinheiro, isso é fato”, diz Paulo Roberto Garbossa, consultor automotivo da ADK. “Esse negócio de compra de mercado é muito relativo. O dumping é proibido e caso estivesse acontecendo as autoridades brasileiras já teriam autuado”, diz. Fontes concorda que não há dumping, mas afirma que há ajuda legal do governo coreano. “O governo de lá incentiva a exportação de veículos com renúncia fiscal e com linhas de crédito a juros menores.” Alexandre Cruz, da LM Consultoria, exemplifica: “Um carro que custa US$ 20 mil na Coreia é exportado por US$ 16 mil ou US$ 17 mil com essa ajuda estatal”. Ary Jorge Ribeiro, da Kia, recorda ainda outro fator: o volume de importação. “Hoje o Brasil está entre os três maiores importadores da Kia, com 25 mil unidades ano, ou seja, com essa soma garantimos mais poder na hora de negociar com a matriz.”


Centralizar produção e globalizar veículos é outro ingrediente da receita coreana de preço baixo. “O Soul, por exemplo, é feito em apenas uma fábrica na Coreia e exportado para os cinco continentes”, explica Ribeiro. “Assim temos escala e redução de custos.” Garbossa destaca que por não contar com estrutura grande como as fabricantes locais, as coreanas não têm os mesmos custos de pessoal, fábrica, logística e estocagem. “Nesse caso, ser pequeno é uma vantagem. E essa vantagem está sendo repassada ao consumidor.

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