A proposta é muito interessante: pelo preço de um compacto, levar um carro de porte médio com motor 1.6 16V e ainda bem equipado. Importado da China, o Chery Cielo desembarcou por aqui em 2010 e, atualmente por R$ 43.990, é um belo retrato do custo-benefício oferecido pelas marcas daquele país. Por esse valor, ele traz freios ABS com distribuição eletrônica de frenagem (EBD), airbag duplo, ar-condicionado, vidros, travas e retrovisores elétricos, rodas de liga leve aro 16”, sensor de estacionamento e MP3 player com entrada mini USB.
Apesar do tamanho (ele tem 4,28 m de comprimento e 2,55 m de entre-eixos) colocá-lo na mesma categoria do Ford Focus e do Citroën C4, por exemplo, um dos grandes méritos do Cielo é justamente oferecer a oportunidade para quem não dispõe de R$ 50.000 adquirir um hatchback médio.
Contudo, quem pretende gastar entre R$ 40.000 e R$ 45.000 encontrará no mercado duas boas opções das tradicionais Fiat e Volkswagen. No caso da marca italiana, o Punto Essence com motor 1.6 16V E.torQ parte de R$ 44.630, enquanto na linha VW, o Polo 1.6 8V começa em R$ 41.430.
É inegável que quem pensa em comprar o Fiat ou VW não ignorará a possibilidade de levar para a garagem um carro maior e mais equipado, como o Cielo. Mas, como a gente aprende ao longo da vida, dinheiro não é tudo. Logo, fica a pergunta: tirando o preço, será que o Chery é superior à dupla Fiat-VW?
Custo-benefício: qual oferece mais por menos?
Para responder, colocamos os três lado a lado, mas, antes, um esclarecimento: quem se assustou com o valor R$ 3.200 maior do Punto em relação ao Polo e R$ 640 comparado ao Cielo (por questão de coerência escolhemos os três com motor 1.6), saiba que o Fiat tem uma opção mais acessível, a Attractive 1.4, tabelada em R$ 40.060 e responsável pela maior parte das vendas.
Mesmo mais caro, o Punto Essence fica devendo airbag duplo e freios ABS. Pior: não é possível comprá-los separadamente. A fábrica combina o pacote com os dois itens (HSD, por R$ 2 578), com os kits Creative 1, Creative 2 ou Evolution 1. No cenário mais barato, para se ter um Punto com os recursos de segurança ativa e passiva, mais retrovisores elétricos e chave tipo canivete, seu valor final atingirá R$ 47.627. No Polo, a situação também é parecida.
Deixar o VW parelho em termos de equipamentos com o Cielo exigirá um investimento de R$ 48.570, sendo que as rodas de liga leve são aro 15”. Quer ABS e airbags no Polo 1.6 de entrada? Impossível, a não ser que, se você fizer muita questão do VW, vá para a versão Sportline de R$ 50.800, que traz a dupla de série. Logo, mesmo sendo considerados hatches “premium”, Polo e Punto cometem os mesmos deslizes na política de opcionais, privando o consumidor de montá-los ao seu gosto.
O melhor ao volante
Ao volante, contudo, o Polo mostra o seu valor. Resultado de um projeto bastante caprichado, o VW apresenta uma rigidez torsional perceptível nas mãos do motorista. Ele é equilibrado nas curvas e confortável para o uso diário, com uma suspensão bem calibrada. O câmbio é outro ponto alto. Os engates suaves e precisos são feitos com um leve manejar da alavanca. Conduzir o Polo é uma tarefa agradável, pois se trata de um automóvel que não cansa o condutor. Graças às regulagens de altura e de profundidade da coluna de direção, é fácil achar a melhor posição de dirigir.
O único com cabeçote com 2 válvulas por cilindro, o Polo foi o mais rápido nas retomadas, mas perdeu do Punto nas provas de aceleração.. Já o Cielo, mesmo sendo o mais potente do trio, foi o pior nas medições, em parte por ter o menor torque entre os três.
Já que estamos falando do Chery, essa morosidade na hora de acelerar (ele foi 6s6 mais lento na retomada de 60 a 120 km/h, comparado ao Polo) é percebida principalmente na estrada. No uso urbano, até que o Cielo não decepciona, mas para um 1.6, ele deveria ter mais força. Como comparação, o E.torQ do Punto tem 1,3 mkgf a mais de torque em uma faixa de rotação próxima (levando-se em conta apenas os dados com gasolina, já que o Cielo não é flex). Com etanol, a diferença a favor do Punto aumenta para 1,9 mkgf.
Um problema que chama a atenção no Cielo diz respeito à suspensão. Apesar do conjunto multibraço na traseira, solução usada em veículos mais sofisticados, o conjunto dianteiro (McPherson com barra estabilizadora) se mostrou muito barulhento. Ao passar sobre algumas irregularidades, foi possível ouvir um ruído metálico, como se algo estivesse solto. A acentuada tendência do Cielo a sair de frente foi outro aspecto que incomodou. E, apesar dos freios a disco nas quatro rodas, o Cielo não se saiu melhor do que os concorrentes na hora de parar, empatando com o VW na frenagem de 100 km/h a 0 em 43,9 m.
Assim como o Polo, o Punto também se destaca pela boa dirigibilidade, e o novo motor 1.6 caiu como uma luva para ele, já que o 1.4 deixava a desejar em termos de desempenho. Na parte interna, o Fiat peca por alguns deslizes, como o fio do sensor de chuva aparente. Nesse ponto, o Polo exibe um acabamento superior. O seu painel elevado proporciona um bom espaço para as pernas de quem vai na frente, enquanto as providenciais prateleiras na parte inferior servem como práticos porta-objetos.
Conclusão
Em uma disputa travada ponto a ponto, o Punto foi o melhor em desempenho e mecânica e por isso venceu o comparativo. O Cielo tem grande chance de se tornar um produto atrativo, desde que seus defeitos sejam corrigidos. O Polo, ainda um excelente produto, é superior ao chinês e só não vence o Fiat por uma questão de custo-benefício.