Os italianos são apaixonados por carros e uma das montadoras mais tradicionais da terra da bota está completando 100 anos de vida em 2010. A história da Alfa Romeo começou no dia 24 de junho de 1910, data de fundação da Anonima Lombarda Fabbrica Automobilie (ou simplesmente A.L.F.A).
A empresa, que antes se chamava Società Italiana Automobili Darracq, já atuava desde 1906, mas só foi projetar seu primeiro carro quatro anos depois. O 24 HP era um modelo despojado, mas resistente a ponto de ser utilizado nas pistas em 1911, universo que a marca seria presença constante nas décadas seguintes.
O novo batismo
Em 2 de dezembro de 1915, a empresa foi comprada pelo engenheiro e empresário napolitano Nicola Romeo, que rebatizou a marca como Alfa Romeo. No entanto, a Primeira Guerra Mundial atrapalhou os planos da Alfa, que se viu obrigada a adaptar sua fábrica de Portello para a produção de máquinas bélicas, incluindo compressores, motores de aviões e trens.
A primeira conquista da Alfa Romeo no mundo das competições foi em 1923, em Targa Florio, que seria sucedida por outras nove vitórias. O RL TF foi o veículo vencedor e também o primeiro a ostentar o tradicional trevo de quatro folhas (ou Quadrifoglio, em italiano), que identificaria a maioria dos modelos de alto desempenho da marca nos anos seguintes. Dois anos depois, o P2 Gran Premio venceu o primeiro de seus cinco Campeonatos Mundiais de Automobilismo.
O início da década de 30 foi determinante para a consolidação da imagem da Alfa Romeo no mundo. A empresa conquistou algumas das provas mais famosas do automobilismo europeu, como os 11 trunfos na Mille Miglia e as quatro vitórias nas 24 Horas de Le Mans.
No entanto, a quebra da Bolsa de Valores de Nova Iorque foi sentida pelos lados de Milão e o IRI (Istituto per la Ricostruzione Industriale, ou Instituto da Reconstrução Industrial, em português) assumiu o controle da Alfa em 1933. O novo diretor administrativo da montadora era Ugo Gobbato, que decidiu concentrar a produção da empresa em motores para aviões, veículos industriais e automóveis de passeio e de competição. Nesta época, a companhia deixou as pistas e seus carros foram dados à Scuderia Ferrari.
Os anos dourados da Alfa
Por conta da Segunda Guerra Mundial, a produção de veículos só foi retomada em 1946, assim como as participações nas corridas. Giuseppe Farina conquistou o primeiro título mundial de Fórmula 1 para a marca em 1950 e, no ano seguinte, o argentino Juan Manuel Fangio levou o bicampeonato ao volante do 159, um monoposto de 425 cv e velocidade final de aproximadamente 300 km/h.
Em 1954, o lançamento dos modelos Giulietta Sprint – que tinha também as versões Spider e berlina – consolidou a marca como fabricante de automóveis e impulsionou a economia italiana, que ainda se recuperava dos efeitos do pós-guerra.
A década de 60 começou com a chegada do Giulia (1962), que era uma espécie de “evolução” da filosofia adotada no Giulietta. Seu sucesso – o modelo e seus derivados atinigiram a marca de 1 milhão de unidades produzidas – motivou a Alfa Romeo a erguer uma nova fábrica em Arese, nos arredores de Milão. Enquanto isso, a lista de troféus conquistados nas pistas crescia a um ritmo alucinante.
Em 1974, a Alfetta GT chegou às ruas italianas e, três anos mais tarde, foi a vez do Novo Giulietta estrear. A década de 80 foi crítica para a empresa (e para a economia italiana), mas novos modelos continuaram surgindo, como o Alfa 90 – que aposentou o Alfetta – e o Alfa 75, concebido em comemoração ao 75º aniversário da marca.
A era Fiat
A terceira mudança no comando da Alfa Romeo aconteceu em 1986, quando o Grupo Fiat comprou as ações da marca. O sedã 164 foi lançado em 1987 e o 155, que acumulou uma série de conquistas no automobilismo, chegou em 1992.
Dois anos mais tarde, foi a vez o compacto 145, que antecedeu a chegada dos esportivos GTV e Spider, este último lançado em 1995. A Alfa Romeo voltou a ganhar notoriedade mundial em 1997, com a chegada do 156. O modelo tinha várias soluções de última geração e um design muito moderno, com destaque para as maçanetas das portas traseiras “escondidas” na coluna “B”, que dava ao carro ares de cupê.
O 166 substituiu o antigo 164 em 1998 e, em 2000, o 147 aposentou o 145. O Alfa GT, que buscava ser uma reinterpretação do antigo Giulietta Sprint, veio em 2003 e, dois anos depois, o 159 foi lançado no lugar do 156. O belo cupê Brera também surgiu em 2005 e no ano seguinte foi a vez do novo Spider.
Ainda em 2006, a Alfa Romeo lançou o 8C Competizione, um superesportivo com desempenho de sobra e um design que faz dele um dos Alfa modernos mais belos já produzidos. Foram apenas 500 unidades produzidas, quantidade suficiente para fazer do carro um clássico.
Em 2008, o 8C Spider chegou à Europa, juntamente com o MiTo, um compacto de proposta esportiva construído sob a base do Fiat Grande Punto. O lançamento mais recente da lendária marca de Milão é o novo Giulietta, um hatchback que chega para representar a marca em um dos segmentos mais competitivos do mercado europeu.
No Brasil
A história da Alfa Romeo no mercado brasileiro é repleta de idas e vindas. Em 1960, mesmo ano em que a capital Brasília foi inaugurada, a estatal FNM (Fábrica Nacional de Motores) lançava o JK, sua versão do Alfa Romeo 2000 (a empresa obteve a licença dos italianos para produzir o sedã). O nome era uma homenagem ao presidente da época, Juscelino Kubitschek.
O modelo esbanjava requinte e tinha itens muito modernos para a época, como duplo comando de válvulas no cabeçote, pneus radiais e câmbio manual de cinco marchas, uma novidade entre os carros nacionais. O motor era um pouco fraco para seu porte avantajado, mas o visual suntuoso fazia os motoristas relevarem a falta de fôlego do JK. O carro foi reestilizado em 1969 e sua produção durou até 1973, quando a FNM vendeu sua fábrica justamente para a Alfa Romeo, que iniciou a produção do 2300 no ano seguinte.
O 2300 era derivado da Alfetta italiana, mas com projeto exclusiva para o Brasil. Era uma alternativa esportiva aos luxuosos Dodge Dart e Ford Galaxie. Em 1977, a Fiat assumiu o controle da Alfa Romeo no Brasil e transferiu a linha de montagem do carro para Betim (MG). Vale lembrar que a negociação não teve relação com a posterior aquisição da Alfa pela Fiat na Europa, o que aconteceu nove anos depois. No caso do mercado brasileiro, a FNM era uma empresa estatal, enquanto que, na Itália, Alfa Romeo e Fiat eram empresas particulares que fecharam um acordo entre si.
Apesar da modernidade e do bom desempenho do motor que gerava 140 cv (potência que subiu para 149 cv com uma nova carburação), as vendas do 2300 começaram a declinar por conta do preço proibitivo. Na década de 80, o modelo se tornou o carro nacional mais caro do país e acabou saindo de linha em 1986.
A abertura do mercado para as importações, no início dos anos 90, trouxe a marca de volta ao Brasil. A Fiat chegou a credenciar algumas de suas concessionárias com a bandeira Alfa Romeo e trouxe modelos como o 145 e o 155 (e seus sucessores 147 e 156, além do 166).
No entanto, com o passar dos anos, a Fiat começou a dar menos importância para a montadora milanesa. Em 2006, a marca italiana interrompeu a importação dos carros da Alfa Romeo, deixando uma legião de fãs do cuore sportivo órfãos. No ano seguinte, um grupo de empresário do Rio Grande do Sul anunciou que venderia os modelos 159, Spider e Brera no país, mas a Fiat interviu e frustrou os planos dos gaúchos.
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